São 18 quilômetros da costa rochosa
espremidos entre mar e terra, em um cenário sem par na Itália - ou fora dali.
Cinque Terre, um conjunto de cinco pequenas cidades no norte da península, ao
sul da portuária Gênova, viu seu destino mudar radicalmente nos últimos anos,
com a descoberta do lugarejo por estrangeiros embevecidos. Se os italianos já
conheciam a sua "Riviera", os viajantes impuseram uma nova rotina às
terre a partir dos anos 1960: as vilas de pescadores e agricultores ganharam
hotéis, restaurantes e lojinhas turísticas para receber os visitantes.
Alcançáveis apenas a pé ou pelo mar
por cerca de dez séculos, as cidadezinhas Riomaggiore, Manarola, Corniglia,
Vernazza e Monterosso al Mare começaram a se desenvolver no fim do século 19,
com a chegada de uma ferrovia à região. Os anos de isolamento contribuiram para
que esse "piccolo paradiso" se mantivesse conservado, com casas
construídas montanha acima e campos cultivados em íngremes penhascos, um tipo
de cultura que existe já pelo menos 2 mil anos. A região produz, desde a época
do Império Romano, uvas, azeitonas - seu tradicional vinho de sobremesa, o
sciachetrà, é raro e muito apreciado na Itália. Para subir e descer a
colina-lavoura, foi preciso apelar para uma engenhoca que entrou para o rol dos
encantos locais: os agricultores usam o "trenino", um carrinho que
anda sobre um trilho e é muito parecido com uma montanha-russa especialmente
porque, em alguns trechos, enfrenta uma descida vertiginosa. A colheita, claro,
segue totalmente manual.
O cenário
geral na região é pitoresco e pouco mudou desde a Idade Média. O que se vê por
ali é uma paisagem de cinema, feita de construções modestas e coloridas que se
apinham ribanceira acima. Em conjunto, as terre formam um dos cantos mais
bonitos do planeta. Isoladamente, cada um possui uma característica marcada,
fácil de identificar. Riomaggiore tem um porto pequeno e muito simpático. É
dali que são feitas as fotos cartão-postal da cidade. De todas as cidadezinhas,
é a mais viva à noite: tem cafés, bares e restaurantes legais para um aperitivo.
Vá subindo até achar a Igreja de São João Batista, do século 12, que por causa
da fachada cinza, destoa do resto das construções.
Manarola, a segunda terre, é bem
pequena, e a que produz uvas entre as cinco, O punta Buonfiglio, mirante local,
é onde todo mundo dá uma parada pra fazer fotos clássicas da cidade. Se puder,
vá também à noite. Manarola, toda iluminada, tem um charme sem fim. Se quiser
economizar na hospedagem, a vila tem o hostel mais em conta das terre, o
Ostello 5 Terre, que recebe muitos jovens norte-europeus. As diárias partem de
25 euros na alta temporada em quarto para seis pessoas.
A menor das
terre fica bem no meio do caminho. A 100 metros do nível do mar, o acesso a
Corniglia é mais difícil. Os barcos, por exemlo, não param ali, já que a cidade
não tem um acesso marítimo. Por isso, é a menos visitadas das cincos. É a
única, no entanto, de onde se pode ver ao longe as outras quatro. Para chegar a
Corniglia da estação de trem é preciso subir uma escadaria íngrime de 377
degraus. A vista é bonita, mas cansa (você foi avisado). Um micro-ônibus leva
os menos dispostos até a vila.
A terre seguinte é talvez a mais amada pelos
viajantes. O pior de Vernazza, encantador do mar, adorável da terra, é a
paisagem mais icônica de Cinque Terre. Ali, você vai ver muitos locais dando
mergulhos no verão (os italianos só entram no mar quando está realmente muito
calor, nem pensam em se arriscar em águas frias, e a costa lígure não é
exatamente conhecida por ter águas quentes). Restaurantes turistas movimentam o
portinho, cercado pelos prédios mais vivamente coloridos de Cinque Terre. As
ruas estreitas e típicas, muitas em "forma de escada", são uma
atração à parte. Suba na torre do Castelo Doria, ruína de uma fortificação que
data do século 11 e admire uma das vistas mais impressionantes da região.
A última das terre é a mais antiga.
Monterosso foi fundada no século 7, embora não haja registro de documentação
histórica até o ano de 1056. É a única com uma praia de areia extensa - que
fica lotada no verão - e é a maior das vilas. Na localidade superturística de
Fegina fica a maior parte dos restaurantes e lojas e a Villa Montale, onde o
poeta genovês Eugenio Montale (1896-1981), ganhador do Prêmio Nobel de
Literatura, passou parte da infância. Entre o bairro e o centro antigo fica o
Convento dei Cappuccini, ponto histórico mais interessante da vila. Das cinco
cidades, Monterosso é que tem a maior e melhor oferta de hotéis.
Vale ir num bate e volta?
No verão, a
paisagem de Cinque Terre sofre a mutação típica dos paraísos de alta temporada
- e recebe uma multidão. Com pouca vocação turística, a cidade portuária
vizinha La Spezia ganhou fama graças à beleza das cinco cidadezinhas. Maior,
com boa infraestrutura e longe da muvuca, virou base para hospedagem de muitos
turistas. Se você for para a região de trem a partir da Toscana, por exemplo,
terá de parar na cidade para chegar às terre.
E, principalmente na alta temporada, aparece
a dúvida: vale encaixar Cinque Terre em um bate e volta? Depende. Só vale mesmo
se você já estiver de passagem pela região, no caminho entre uma cidade e
outra. Se estiver em Gênova, por exemplo, ir e voltar no mesmo dia pode ser uma
boa idéia, já que os trens regionais levam pouco mais de uma hora entre a
cidade e Monterosso, a terre mais próxima. O mesmo vale para Lucca ou Viareggio
na Toscana. De trem, chega-se a La Spezia em cerca de uma hora. A partir de
destinões como Florença ou Siena já não compensa: são mais de duas horas e meia
até a região. Aí é melhor deixar pra próxima - e torcer pra próxima chegar mais
rápido possível.
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