Entre a brisa da praia e a a abdução dos shoppings, entre o chiquetê e o cafoninha, enre o charme art déco e o exagero neon, entre o software certinho dos americanos e o calor desbragado dos latinos – lá esta a pendular MIAMI. A encantadora metrópole com transtorno d=e personalidade está trincando de novidades. Tem outlet, museu, bares, restaurantes, bairro da moda, uma penca de novos hotéis. E, estando por lá, vamos aos arredores. Do condado elegante de PALM BEACH à região sabiamente nomeada PARADISE COAST. Miami: não adianta tentar esquecer. (Por Laura Capanema)
Conhecida mundialmente como "The Magic City". E é especialmente magic para nós, brasileiros, que vamos mais para lá do que qualquer outro turista: chegamos ao escandaloso número de 755 mil visitantes no ano passado, na frente de 660 mil canadenses. É gente pra burro. E seremos mais - já crescemos 6% em relação a 2013 só nos primeiro seis meses de 2014. Em dezembro de 2014 dois novos voos foram lançados, ambos saindo de Campinas-Viracopos. A Azul escolheu o destino para dar seu primeiro salto internacional, no dia 1º de dezembro. O voo da companhia aterrissa em Fort Lauderdale. a 40 quilômetros da cidade (meia horinha sossegada de carro pela freeway). No dia 3 foi a vez da American Airlines, que inaugura mais um voo diário direto Miami. Serão 11 empresas voando direto para Miami (ou com escalas) a partir de 12 cidades brasileiras. Nunca foi tão fácil chegar lá.
Se depender das autoridades miamísticas, o transporte local há de ser cada vez mais baba. Esta em construção um trem que ligará Miami a Orlando em três horas. A nova estação da All Alboard Florida, que tem um multimilionário sistema privado de passageiros, estima receber 5 milhões de viajantes por ano. Ela vai se conectar com o Metromover e o Metrorail, sistemas já existentes, criando um centro integrado. Cosia de quem tá mesmo empenhado em agradar um turista.
E, o que mais atrai os brasileiros são as compras - lá, ainda convidativas, com taxa de imposto sobre o produto de 7%. menos do que em Nova York (8,875%), Chicago (9,25%) e Los Angeles (9%), temos mais motivos para comemorar. Foi inaugurado o PALM BEACH OUTLETS, com 46.000 metros quadrados de lojas que asseguram descontos de até 70%. O espaçõ, no estilinho "vilarejo a céu aberto", está no coração da West Palm Beach, a uma hora de Miami. Ele fica mais longe dos consagrados Sawgrass Mills (o maior dos Estados Unidos e queridinho dos brasileiros) e Dolphin Mall, dentro de Miami. Mas é mil vezes mais vazio. E tem "as mesmas lojas de sempre", como Saks, Fifth Avenue, Adidas Banana Republic, Samsonite, Forever 21, Calvin Klein, Carter´s e PacSun, vende barnadas de marcas de surfistas como Roxy e Billabong. A dica é ir logo que as portas às 10 horas da manhã, e seguir direto para o centro de atendimento ao cliente, na praça de alimentação coberta. Ali é só mostrar o passaporte e arrebatar o livrinho de descontos - isso mesmo, mais descontos em cima dos preços já descontados. Se a média do brasileiro é gastar US$ 285 por dia de viagem, segundo a última pesquisa do Greater Miami Convention & Visitors Bureau. Por US$ 40 você arrebata uma boneca gigante da Frozen. Mas, se você não quiser pegar estrada, tudo bem, há novidades capitalistas por lá também. O clássico Dadeland Mall, onde é possível contemplar as novas coleções das mesmas lojas do outlet e que tem a maior Macy´s da Flórida e uma concorridíssima Apple Store (a mais próxima do Aeroporto de Miami e ainda mais com o lançamento do Apple 6), acada de expandir sua área em 11.000 metros quadrados. Gahou Puma, Hugo Boss, Urban Outfitters e mais 15 marcas, incluindo um pub-restaurante, o Earls Kitchen + Bar. E agora tem a mais nova IKEA, a maior loja na Flórida da rede sueca de artigos de decoração e design que conquistou o mundo. Se os preços já são bem interessantes na Europa, imagina em Miami.
No campo da gastronomia, a lista de novidades também é farta. O recente lançamento foi o japonês-contemporâneo Morimoto, do chef-celebridade Masaharu Morimoto, que tem 12 casas pelo mundo, e adaptou o cardápio originalmente nova-iorquino com experimentalmente nova-iorquino com "experimentações leves, picantes, tropicais, como Miami". Aliás, a cidade tá na onda de abrir filiais de hits de Manhattan - em julho foi o italiano II Mulino, do chef Michele Mazza. Outras três boas novas: o Bistrô BE, de comida belga, com belas reivenções do que a Bélgica faz de melhor, como waffles e cervejas (são 70 opções só de loiras geladas) o bar de ostras Mignonette, minimalista e agradável, que serve porções para três por US$ 32; e o ARTcade, uma casa vintage com máquinas de fliperama que nos convidam a joga Pac Man.
Talvez Miami seja tão magic justamente por misturar atemporalidade - calor, umidade, carrões extravagantes, predinhos art déco, modeletes de salto alto, letreiros neom e todos os clichês facilmente reconhecíveis em um passeio por South Beach - com sede de se reinventar. Há uma comunidade criativa batendo o pé, ali, e ousados investimentos arquitetônicos continuam saindo do forno, com Pérez Art Museum (PAMM), que no verdíssimo Museum Park, o qual em breve vai inaugurar também um museu de ciências, com 3.000 metros quadrados. O PAMM, aberto em dezembro de 2013, é a amostra perfeita da união entre arquitetura inventiva e arte contemporânea. O prédio com vãos de madeira e paredes de vidro, desenhado pelo escritório Herzog & De Meuron, que projetou o Ninho dos Pássaros de Pequim, é de encher os olhos, na boca da Baía de Biscayne. A sensação é a de que a água vai invadira qualquer hora aquelas telas coloridas. Coloridíssimas por sinal - tive o deleite de contemplar a exposição Jardim Botânico, de Beatriz Milhazes, hoje a brasileira que mais vale no mundo das artes.
Tanta abundância visual é um desdobramento orgânico da Art Basel, artéria da feira de arte homônima, na Suíça. que carrega a resposta de ser a mais importante do mundo. De fato, há 12 anos o evento colocou Miami Beach no mapa das celebridades e dos leilões internacionais. Desde então, novas galerias, mostras, instalações itinerantes e festas ao ar livre pipocam pela cidade, não só no mês de dezembro, quando a feira acontece, mas o ano inteiro. Aquela vibe cafona muito reproduzida nas conversas de viajantes cults tem mudado de ares. Miami está cool.
É impossível falar de arte sem citar Wynwood, bairro no norte da cidade que é a versão daquilo que é tendência mundial: toda grande metrópole agora tem seu distrito descolado, a maioria com um grafite ali, uma galeria acolá - como o Williamsburg no Brooklyn de Nova York, o Belleville de Paris, o Pigneto de Roma, a Vila Madalena de São Paulo. E Wynwood é gente grande de verdade: já tem mais de 70 galerias de arte. Os brasileiros Osgêmeos, Nina Pandolfo, Nunca e Kobra tem murais ali. Kobra, aliás, pintou a fachada do novo restaurante R House, descoladíssimo e lotado, inclusive por famílias e pessoas acima dos 50. "Wynwood ainda tem alguns prédios abandonados, mas pode ter certeza e que todos já tem dono", disse a carioca Nara Azevedo, que idolatra o bairro e vive há oito anos na cidade. O lugar está tão na moda que é impossível andar por lá sem ver modelos e fotógrafos aproveitando aquelas paredes coloridas para fazer sessões publicitárias. Dentro desse software novidadeiro, o café italiano Joey´s e os restaurantes modernistas Shikany e Wynwood Kitcjen & Bar são lugares bons pra ir.
E sempre teremos South Beach, onde a maioria dos hotéis tem história para contar. A arquitetura dos anos 1920 e 1930 é uma compilação de edifícios geométricos em tons pastel e encanta por ser tão conservada. É impressionante a conservação. Esses predinhos acabaram virando ícones de uma cidade sem cartão-postal. Em Miami não há uma Fontana di Trevi, uma Golden Gate...Lá a atração é contemplar fachadas. Ou caminhar a beira-bar, para um drinque no News Café, dar um rolê de bike (a DecoBike, o sistema público local, tem 100 estações. Uma hora custa US$ 6; um dia, US$ 24). A Miami de hoje tem muito mais a ver com a exaltação da boa vida do que com a figura de sacoleiros enloquecidos batendo pernas nos outlets. Quem não quiser calçar sapatos Louboutin pode descer do salto e passear de Havaianas, sem mexer muito na conta bancária. No fim das contas, aliás, Miami tem tudo para todo mundo. Talvez seja por isso que tanta gente, de todas as idades, gêneros, transgêneros e classes sociais, continua indo pra lá, ano após ano. Que ela continue assim, sobrevivendo no plural, nos embalos de sábado a noite, de seus domingos de manhã, de sua notável contemporaneidade.
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